sábado, agosto 31, 2013

Reflexão

Para Carol.

Amistad - Pablo Picasso
Eu acredito que esta é uma terra de passagem e estamos aqui apenas para aprender. Podemos nos revoltar. E nos revoltamos muitas vezes!

Quase sempre minha primeira reação é me desesperar. Depois, quando consigo para
r para refletir, penso o seguinte:

Não importa o que os outros fazem comigo, o que importa é o que EU FAÇO com o que os outros fazem comigo.

Esse ensinamento não é meu, é de Jean Paul Sartre.

E no fim, consciência é para quem tem. Artigo de luxo, não se vende em farmácia. Mas quem tem (ou desperta alguma, um dia) terá de conviver com ela.

Desta forma, chorar, xingar, se desesperar não vale a pena. Acaba tornando a vida uma comédia-pastiche, um grande dramalhão mexicano, no qual muitas vezes as confusões começam e ninguém sabe nem o motivo.

Às vezes, é melhor agir como se os OUTROS fosse uma grande reunião de NINGUÉM!

sábado, agosto 24, 2013

Delírios de Dani Maya - I

Um espetáculo da natureza ameaçado de extinção. 
Da Série "Coisas que eu gostaria de fazer":

Entrar para o Greenpeace
Me amarrar em navios baleeiros
Criar incidentes diplomáticos
para salvar baleias, tubarões
e todas as outras especies ameaçadas.


E como prémio, além de ajudar a salvar vidas
Presenciar toda aquela beleza
do oceano exuberante
diante da minha pequenez. 


Redes prendendo todo tipo de vida marinha, de golfinhos a tartarugas, inclusive aves, que, se não prestam para o comércio são simplesmente deixados lá para morrer, ou muitas vezes já encontrados mortos. 



Barbatanas cortadas para serem vendidas no Japão como iguarias para uma elite soberba.
O tubarão ainda vivo, mutilado, sendo jogado ao mar, para agonizar, por não ser mais quem a natureza o fez. Morrer de forma lenta e cruel. Então pergunto, quem aí é o animal?


Imagens retiradas do documentário francês Óceans. (2010)
Direção: Jacques Perrin. 

sábado, agosto 10, 2013

SOBRE O ABORTO OU RELATO DE UMA SOBREVIVENTE

Eu sou contra o aborto. Não por razões religiosas, científicas ou políticas. Eu sou contra o aborto pelo mesmo motivo que um sobrevivente de guerra é contra a guerra. Sou uma sobrevivente.

Que exagero - alguns poderão dizer – comparar o aborto a uma guerra! Então vamos aos números. No Brasil não existem dados oficiais sobre a quantidade de abortos clandestinos realizados, mesmo porque, a prática é considerada ilegal. Entretanto, um relatório de 2005 da Organização Mundial de Saúde mostra que cerca de 4 milhões e 200 mil mulheres tiveram suas gestações interrompidas mediante aborto não espontâneo na America Latina e Caribe. Destas mulheres, 21% chegaram a óbito.

O Brasil é o país recordista em abortos clandestinos, com 31% das gestações interrompidas; cerca de 01 milhão e 400 mil abortos por ano.

Agora vejamos algumas dos ataques mais sangrentos da História:
Hiroshima – 300 mil mortos
Stalingrado – 1,5 milhões de mortos
Guerra do Afeganistão – 11.221 mortos até o presente momento.

E daí? Você me pergunta. O grande trauma da perda de uma vida, até onde sabemos, não é para quem se vai, mas para os que ficam. As sequelas, as lembranças, a dor. Nesse ponto, vejo que muito se fala sobre o direito à vida, à consciência já existente no feto, sua vulnerabilidade, mas em nenhum momento eu tomei conhecimento de qualquer discussão que levasse em consideração os sobreviventes ao aborto.

Se você conseguiu ler até agora, nesse ponto, permita-me um relato. Nasci em março de 1977. Sou franzina, fisicamente subdesenvolvida, mas não posso afirmar que seja um problema de formação, embora eu seja a mais frágil, dentre toda a prole. Minha mãe tomou Citotec até o 7º mês de gravidez. Ela tentou muitas vezes interromper a gestação da qual eu fui fruto. Mas sobrevivi. Na sala de parto, a médica perguntou se ela não queria dar-me em adoção, pois havia se encantando comigo, apenas um bebê. Imbuída de remorso, dúvida, sentimento de culpa ou medo de ser julgada, talvez até, em algum momento, amor, a minha mãe disse não e decidiu ficar comigo.

Sua desculpa principal era ser jovem demais, tinha 25 anos apenas! Tanta coisa para viver ainda, em sua vida não cabia uma criança. Mas aos 25 anos toda a capacidade cognitiva do ser humano já está formada, assim como seu caráter e seus valores. Compreende-se que todas as ações têm causas e consequências.
E assim, ela me levou para casa. Não me amamentou. Sua frustração e sentimento de culpa deixavam-na emocionalmente instável e, a mim, consequentemente, restava o sentimento de desamor, que oscilava entre beijinhos e “perdoe a mamãe” à afirmações constantemente repetidas, tal qual disco arranhado:

“MALDITA HORA EM QUE VOCÊ NASCEU! TOMEI CITOTEC ATÉ O 7º MÊS PARA ME VER LIVRE DE VOCÊ. VOCÊ É A CAUSA DA MINHA INFELICIDADE. POR SUA CULPA, VIERAM OS OUTROS. SE VOCÊ NÃO TIVESSE NASCIDO, NENHUM DELES TERIA NASCIDO”.

Cresci ouvindo isso e buscando meus caminhos. Evasão na literatura, na filosofia. Apeguei-me a Sartre e a Nietzsche desesperadamente, em busca de alguma racionalidade, porque Cristo, Seicho-no-ie, Jeová, todos os santos católicos e Orixás eram usados como metodologia de tortura psicológica, contra uma criança por uma mãe perdida, que buscava a Luz como uma mariposa desvairada, sem saber que inevitavelmente iria se queimar, na tentativa de aplacar seus próprios demônios. Íamos a cada templo, terreiro e igreja diferente todos os dias. E diante de tantas crenças diferentes, de tantos dogmas desencontrados e de tanta hipocrisia, refugiei-me na filosofia existencialista.

Apesar disso, concordo que a mulher tem o direito ao próprio corpo. Acredito que as leis devam ser mais severas contra violadores, estupradores, inclusive torturadores emocionais. Acredito que as mulheres devem ser respeitadas em seu ambiente de trabalho e ser remuneradas da mesma forma que um homem seria, pelo mesmo serviço, sem discriminação. E concordo, sobretudo, que as mulheres devem ter o direito de escolha.
Entretanto, mesmo uma não-escolha já é uma escolha. E se alguém não escolhe ser mãe, tem idade biológica e mental para ser mãe e, acima de tudo, não foi obrigada a tal, essa pessoa também tem o direito de escolher entre os inúmeros métodos contraceptivos que existem à disposição no mercado e gratuitamente na rede de saúde pública.

Não confio em seres humanos capazes de tirar um pedaço do seu corpo, que pulsa, que lateja, que é vivo, como cada célula e, que acima de tudo, se tornará uma identidade única, própria e ao sinta remorso ou culpa. Mas o pior do remorso ou da culpa, não é quando o perpetrador e apenas ele, tem que conviver com isso. O pior é quando existem sobreviventes.



quinta-feira, julho 04, 2013

À MAR...É

Vejo os meninos jogando pelada
Há tanta alegria e esperança
Nos risos, nos gritos, nas xingas, no olhar

A salva de tiros soa como fogos
Mas nem todos conseguem driblar a morte
Porque sorte, hoje em dia, é pra quem pode pagar
E para nós, os outros: a vida, todos os dias, para ganhar.

Tá lá o corpo estendido no chão
Se foi falta, não tem bandeirinha, nem juiz
Tá lá o corpo estendido no chão
Se foi falta, ninguém fala, ninguém diz

Vejo os meninos jogando pelada
Há tanta alegria e esperança

Nos risos, nos gritos, nas xingas, no olhar...

Postlúdio

Teu corpo no meu corpo
Após o coito

Quebrando o silêncio


Penso coisas que não tenho coragem de dizer.
Coisas, que expor,
Seria a violação dos sentimentos mais profundos.

Às vezes, pesa.

Então, quero falar.

Faltam as palavras

...



NÃO FUME NA CAMA ou PORQUE EU NÃO CONSIGO DORMIR

Já não ligo para o que você quer
Ou mesmo onde possa estar
Sinto apenas a delícia do vazio
Com um vinho e um filme do Godard
A vida em preto & branco
Há muito não me satisfaz
Não persigo mais suas sombras
Colecionando mistérios
Como personagem qualquer
De algum filme noir

Os meus olhos marejados se confundem com a neblina
E em minha boca o gosto é salgado.
É sua deixa!
Agora, então, vire pro lado
E acenda o seu cigarro...

Mas não mais!

Dani Maya
Santa Lúcia, 05/07/13 - 00:34.

sábado, março 10, 2012

Casa Vazia

Quando entrei na casa vazia
tinha cheiro de noite, tinha cheiro de mar
e seu corpo jazia
com as cores do não-ser

Quando entrei na casa vazia
Quis correr, quis gritar
e meu corpo ardia
com as cores que eu não queria ver

Ela estava na dela, tão bela
o cabelo assanhado, pro lado
E eu não sei, mas parecia dormir

Ela estava serena, tão plena
talvez posando pra um quadro
E eu não sei, mas acho que a vi sorrir

Quando fiquei na casa vazia
era o tudo e o nada
que me consumiam
E eu senti o chão desaparecer

Quando sentei na casa vazia
era o sabor do fel, era o sabor do sal
que em minha boca morria
E os silvos da dor que eu queria conter

Ela estava tão plena, ela estava na dela
Ela estava serena, ela estava tão bela
Parecia envolta pelo vento sul

Eu estava infeliz, eu estava tão gris
que só percebi o mudar do matiz
quando ela tão fria, já estava azul

E em meu desespero, olhei no espelho
Só então percebi que ela era eu

terça-feira, junho 01, 2010

Das questões que precisam se resolver

É grande o fardo do mundo adulto, de ter de fazer suas próprias escolhas e responder pela conseqüência de seus atos. Tão mais fácil não tê-las, malditas. Eis o porque os fracos sempre se escondem nas não-escolhas, sempre entregam o comando de suas vidas aos outros, ao acaso, a Deus. Mas por que? Porque sempre há o "e se". Como ter certeza que o caminho escolhido nos levará a uma paragem mais tranqüila? Como ter certeza de qual é o caminho "certo" dentre tantos caminhos?

É simples: Não temos. Ninguém tem. A vida não é feita de certezas e, sim, de riscos. Uma vida feita de certezas assemelha-se mais a uma prisão construída com tijolos de dogmas. E ainda assim, não adianta, toda não-escolha já é uma escolha, já diria Jean Paul Sartre.

segunda-feira, maio 31, 2010

Perigo: Inflamável!

Sintonia, sincronismo, destino. Não importa o nome que se deseje dar. Algumas coisas são simplesmente inevitáveis. Podemos fingir inocência, bancar o vitimizado, arrumar desculpas, pretextos, justificativas - afinal, como diria Sartre - "o inferno são os outros".

Podemos até ignorar todos os sinais que se apresentam diante de nós, alguns discretos; outros, reluzentes como grandes letreiros luminosos em letras vermelhas com fontes gigantescas, enfatizando o perigo, exortando os incautos à manter uma distância segura, mas para alguns de nós, simplesmente não funciona.

Inconseqüência? Desejo de aventura? Não sei. Algumas pessoas tão somente gostam de viver no limite, expor-se ao perigo. É a sensação indescritível da adrenalina correndo freneticamente nas veias, o arrepio na coluna, o frio na barriga. Não consigo imaginar ser humano que jamais tenha sentido algo assim. Se existe, pobre coitado, de fato ainda não viveu. Tudo é uma questão de pesar o seu medo e o seu desejo...