quarta-feira, junho 28, 2006

PEQUENAS MORTES COTIDIANAS


Após a leitura de um dos meus textos, uma amiga muito crítica me questionou a constante presença da morte. Macabro, ela diria. Intrigada, comecei a me reler, observando de forma mais acurada todas as minhas metáforas e imagens. É verdade que as palavras morte, enterro, autópsia, caixão são recorrentes. Entretanto, eu ousaria dizer, tudo isso não passa de uma canção de louvor à vida!

O maior sofrimento humano decorre da consciência de sua finitude. É nesse momento em que a vida passa a ser mais saborosa, em que se deseja extrair seu supra-sumo. Momento em que todas as cores têm mais matizes.

Muitas pessoas passam pela existência como espectros, aglomerando-se na multidão amorfa, sendo mais um nas estatísticas. Massa de bolo, de pão, de manobra. Fazendo parte da reunião de ninguém. Sobretudo, sem fazer nada por si mesmo. Sem crescer como ser humano. Sem ser. O que você faria se soubesse ter apenas mais um ano de vida?

O câncer do tempo está nos devorando, escreveu Henry Miller. E ele continua faminto. Aquilo que nos permite a vida é o que nos oxida. Entretanto, eu acredito, cada minuto que passa é uma chance de virar a mesa. Mas para isso precisamos nos livrar dos fardos que carregamos para estar com as mãos livres, pois só assim é possível receber o novo.

terça-feira, junho 27, 2006

Educação ou Barbárie?


Ontem eu experimentei a frustração de presenciar a dissolução da minha última e mais frágil esperança na Educação. A raspinha do tacho queimado, lá no fundinho, que parecia ser doce em sua essência, jamais poderia prestar. Estava queimada. E a dissolução era o seu fim, como o açúcar em água. De preferência, corrente.

Um espetáculo grotesco: o Gonzagão apinhado de professores da rede pública de ensino. Quanta mesquinharia! Quanto desvario! Quanta mediocridade! Jamais presenciei, nos meus 20 e uns anos bem vividos, tamanha má-educação e vulgaridade.

O evento, promovido pela Secretaria de Educação, era nada mais, nada menos que uma tentativa desesperada de promover o governador na sua última semana de aparição pública permitida por lei, antes das campanhas eleitorais. As levas de professores, movidas pelo desejo de adquirir um computador gratuitamente, chegavam de todos os lugares, desde muito cedo. Cinco, seis horas da manhã, embora o início estivesse marcado para às nove.

Quando cheguei, logo me senti "Daniela na cova dos leões". Será que além dos computadores, também queriam minha carne? Quereriam, quicá, minha alma? Fui rodeada pela multidão cega, surda e mal-informada. Mas que, infelizmente, falava. E como falava! Em meio à balbúrdia tentei manter a calma. Mas o universo tem as suas próprias leis. Ai, Murphy!

Sem energia, sem tecnologia, sem estrutura básica. Poderia ser pior? Sim, poderia! Sem o mínimo de respeito ao ser humano. Os professores só faltavam se estapear, na tentativa de fazer valer o famoso "jeitinho brasileiro", gritavam, esperneavam, ameaçavam, xingavam e eram apenas o exemplo do que não fazer.

Uma grande amiga minha costuma dizer que a verdadeira natureza das pessoas se revela, diante de uma mesa com muita comida de graça. E muitas vezes nos oportunizamos observar a erupção desses pequenos mosntros.

De repente, creio que essa feira era como uma boca livre, o "0800" dos computadores. Eis então os educadores de hoje e sua verdadeira face. E se "isso" são educadores, oh deus! me pergunto o que será dessas crianças, os adultos de amanhã, se esses são os exemplos assistidos.

Lembro de um professor do ensino médio que dizia ser a História um espiral. Segundo ele, as coisas se repetiam em momentos diferentes... O que mais posso dizer? Ah, Viva o retorno da Barbarie!