domingo, setembro 16, 2007

Ode ao meu Rei


Que cruzes escondes, amor?
(Espinhos, em rosas, que hei de tirar...)


Que caminhos percorre a tua alma?
(Para que a minha possa te encontrar...)


Quantos brasões carrega o meu rei?
(O Senhor, que deixou meu coração em brasa...)


Que bandeiras hasteia em teus territórios?
(Lembra-te que meu corpo é tua casa...)


Quantas insígnias traz nesse peito?
(Pelo qual o meu arfa de desejo...)


Que incontáveis luas ainda espero?
(Para saciar minha sede de teus beijos...)


Quantas perguntas... E a todas calo!
Ante o seu olhar. E o simples prazer de amá-lo...

sexta-feira, agosto 03, 2007

O "desencantamento" ou Uma resposta para Lu

Isso aqui não passa de alguns pensamentos acerca de uma temática que me foi colocada. Não pretendo ter razão, embora minhas afirmações pareçam estar muito cheias de sua própria verdade. Pretendo fazer algumas considerações sobre o "desencantamento" do "príncipe encantado".

O princípio é a negação. Mas não basta assassinarmos as princesas, negarmos os nossos sonhos, sonhos que nos foi cuidadosa e subliminarmente inculcados através de séculos de uma cultura machista alimentada por nós mulheres, na medida em que perpetuamos ritos medievais de dominação como o casamento, no qual somos entregues das mãos do pai à custódia do marido; nas historinhas de ninar que contamos para nossos filhos; na diferenciação cultural marcada por uma moralidade lassa e permissiva aos filhos homens e cheia de tabus para as filhas mulheres, subjacentes em discursos como; "prendam a sua cabrita, que o meu bode está solto". O princípio é a negação.

Não quero dizer com isso que devemos empunhar bandeiras e proferir palavras de ordem, queimando soutiens em praça pública. Mesmo porque, acredito, homens e mulheres são diferentes. E devem ser tratados de forma diferente, naquilo que têm de essencialmente diferentes. Da mesma forma, devem ser tratados de forma igual naquilo em que devem ser iguais. E nesse ponto ressalvo a questão do respeito.

Não somos objetos para sermos custodiadas e isso quase não existe mais. Mas havia um discurso subjacente ao rito do casamento: o ideal idílico do sonho de fada. No casamento, toda mulher pode ter o seu dia de princesa. E qual o problema em casar? Nenhum! Casamentos são lindos e românticos! O problema é que, na maioria das vezes, quando começamos a nos envolver afetivamente com um homem já o vemos como o "príncipe encantado" que nos levará ao altar.

Comumente, ele não é um príncipe, mas um sapo. E antes que a ala masculina comece a berrar, eu pergunto: que mal há em ser um sapo? Eu poderia usar qualquer outra metáfora, mas já que estamos usando os contos de fada, o sapo é o personagem que melhor representa a "humanidade" do homem normal, não-encantado, num universo fantasioso onde tudo é mágico.

Então surge a pergunta: assassinadas as princesas, o que fazer com o "encantado"? Ora, assassiná-lo também. Se matamos as princesas e mantemos vivos os príncipes e as fadas madrinhas, mantemos o vínculo com toda a fantasia que nos impossibilita viver um história real e saudável. E nos refugiamos nas fantasias novelísticas, romanescas ou cinematográficas cada vez que a vida não imita nossos sonhos.

Chegamos à parte positiva. Um fabuloso dizer "SIM". Um maravilhoso "desencantar". Alguns românticos podem me perguntar o que de maravilhoso pode haver nisso? E eu respondo: Maravilhoso é ser saudável. Ao sairmos do mundo da fantasia e "desencantarmos" nossos arquétipos ideais, estamos nos permitindo encarar a vida como ela é, embora ela não precisa ser nelsonrodrigueana. Mas às vezes é. E daí? Fugimos para a fantasia novamente? Não acho que é bem por aí...

De qualquer forma, enquanto esperamos encantados, criamos expectativas. É um peso pra gente, mas é um peso para eles também. Qualquer um quer ser gostado com seus defeitos peculiares, ser ter q bancar o herói romântico o tempo todo. Tudo bem, a grande maioria dos homens não chegam a essa complexidade de pensamento, mas reagem assim à pressão, tão logo começam as nossas cobranças.

E o pior é que, as vezes com o nosso excesso de cobranças, acabamos jogando o peso de uma responsabilidade muito grande sobre um cara, que pode ser um cara legal, apenas por ele ser normal, com defeitos e virtudes... Daí afastamos o que poderia ser um bela história de amor, construída no dia a dia, com concessões e trocas, as vezes com algumas briguinhas, mas com muito diálogo, como só as histórias de amor reais podem ser...

Outro problema é que ficamos tão ansiosas, que muitas vezes não nos permitimos o tempo das coisas acontecerem e ficamos com o primeiro babaca que nos arrota palavras bonitas, que aos poucos se revelam torpes. Temos que cuidar de nós. Nos amar de verdade. Só quando conseguirmos nos sentir felizes sem esperar nada ou ninguém, aí sim estaremos prontas para viver uma relação plena onde tudo é soma. Uma relação onde não há necessidades. Onde cada um possa ser "uma taça que quer transbordar"...

Um brinde!

segunda-feira, julho 30, 2007

Página em Branco

(para Isa)


Seria fácil ser uma página em branco
Se bastasse apenas um Ctrl+N*.
Fácil e sem sabor,
como as relações instantâneas:
imediatas e mediatizadas.
Seria fácil ser uma página em branco
se bastasse apenas um Ctrl +N,
sem se perder nos “n” descaminhos
elevados às enésimas possibilidades.

Seria fácil.
Mas não teria a delícia de ser
uma página em branco,
desconstruída no dia-a-dia
em - não tão suaves – backspaces...

Seria fácil.
Mas, definitivamente, não teria
a delícia de ser uma página... em branco!

______________

*Ctrl+N no Microsoft Word, versão BR, é atalho para negrito. Contudo, o programa q é uso é o BrOffice.Writer, no qual Ctrl+N significa Control New, ou seja, é atalho para nova página em branco. (Uploaded by Milhouse Van Houten™. Thanx, dear!)

domingo, julho 29, 2007

Cinderela assassinada ou Um ponto nos contos de fada

Assassinei a Rapunzel,
a Rapunzel que havia em mim
que esperava um príncipe, solitária
presa numa torre de marfim

Meninas, escutem o que eu digo!
Mas prestem bastante atenção:
nas armadilhas das palavras doces
escondem-se, silentes, dominação e submissão

Meninas, prestem bastante atenção!
Escutem bem o que eu digo:
Os príncipes, um dia, viram sapos
e, nesse caso, estar só não é castigo.

Assassinei a Cinderela também...
E joguei fora o sapatinho dela!
Afinal, o mundo não é cor-de-rosa
Tem mais tintas nessa aquarela

Vítimas de minha lista negra:
Branca de Neve, Gata Borralheira,
e até mesmo a Ariel,
aquela sereia faceira...

Elas nos mostram a virtude da espera
por um homem que muitas vezes não vem...
Mas o pior ensinamento é mudar,
para que esse homem nos ame também.

Essas princesas, heroínas da minha infância
Não fazem nenhum bem
Nem para mim,
nem pra ninguém...

Alvejei, então, sem dó, nem pena
o exemplo da vitimizada
pois se ser mulher é ser mártir
antes de ser Cinderela, prefiro ser bruxa malvada!

sábado, junho 09, 2007

Travessia


Quanto mais escura a água, maior o medo de atravessar o pântano. Mas é além dele que se encontra o sábio salgueiro de raízes milenares. No vento, podemos ouví-lo entoando as canções que estão dentro de nós. E nos perguntamos: que caminho seguir, dentre tantos os caminhos? Quem joga teus dados? Quem rege teu destino?

Iniciada a travessia, temerosos e a passos lentos, já não vemos nossos pés. O lamento dos afogados ecoa, sedutor. Um convite a voltar atrás. Mas o pântano não guarda pegadas. Parar é ser mais uma voz no coral das lamentações.

Ninguém disse que não seria difícil. Ninguém disse que não seria grande a vontade de desistir. A cada passo dúvidas salteadoras nos assomam: o que queres? o que te intimidas? que imagens queres passar? qual a importância que cada uma das pedras de teu caminho tem para ti?

Para além do salgueiro! Atravessemos, então, o pântano, rumo às nossas cidades! Em confronto com tantas angústias e paixões é preciso estar na multidão, pois diante dos espelhos é que vemos nossas verdadeiras faces.

quinta-feira, junho 07, 2007

No jardim da espera


Pétalas ao vento não me dizem
Bem-me-quer ou mal-me-quer
Então espero em meu casulo
Se você virá ou não

Ervas daninhas no jardim
Mato-me, mato a crescer
E em meu casulo, rôo as unhas
Devorando o coração

Envolta em tênues fios
tecendo minutos de ilusão
Espero-te, ansiosa, sem saber
se haverá uma hora certa

- Mas então é primavera!
diz a voz da intuição
-Levanta-te! Já é hora de nascer...
Abre as asas, borboleta!


(para Karina Nou)

domingo, junho 03, 2007

Bife de coração ao molho de indiferença


Ingredientes:



  • 01 coração fresquinho

  • 01 xícara de lágrimas sofridas

  • 01 boa dose de esquecimento


Molho:


  • Imagens do passado

  • 01 pitada de mágoa

  • 01 naco de amor próprio

  • Azeite de desprezo extra-virgem

  • Brotos de esperança cortados pela raiz

  • Descaso à gosto

Modo de fazer:


Pegue as imagens do passado, tempere com uma pitada de mágoa, um naco bem bonito de amor próprio e descaso à vontade. Refogue em fogo brando no azeite de desprezo extra-virgem por cinco minutos. Deixe esfriar.


Corte o coração novinho em folha em dois pedaços. Não precisa ser exatamente ao meio. O importante é que seja partido na hora.


Tempere o coração com uma xícara de lágrimas sofridas e jogue, logo em seguida, uma boa dose de esquecimento para flambar.


Coloque numa bandeja e despeje sobre o coração quente, o molho frio. Voilà. É só servir...



by Dani Maya & Ricardo Bebe-Gás.

Nós


Nós
Um nó de nós dois
Um beijo
Um sonho para depois
Insone
Coração tão descuidado
intensamente
quis amar
sem medir distância ou tempo
Incontáveis luas
Minguantes serenos
coração tão desatento
que amou sem ser amado...

Voz
que cantou canções no vácuo
No eco
só se ouvia nos trilados
Não mais
coração tão descuidado
Imensamente
quis se dar
sem olhar quem estava ao lado
Almas nuas
vazantes seremos
em solitários alentos
com amores tais guardados...

Dani Maya