sábado, junho 09, 2007

Travessia


Quanto mais escura a água, maior o medo de atravessar o pântano. Mas é além dele que se encontra o sábio salgueiro de raízes milenares. No vento, podemos ouví-lo entoando as canções que estão dentro de nós. E nos perguntamos: que caminho seguir, dentre tantos os caminhos? Quem joga teus dados? Quem rege teu destino?

Iniciada a travessia, temerosos e a passos lentos, já não vemos nossos pés. O lamento dos afogados ecoa, sedutor. Um convite a voltar atrás. Mas o pântano não guarda pegadas. Parar é ser mais uma voz no coral das lamentações.

Ninguém disse que não seria difícil. Ninguém disse que não seria grande a vontade de desistir. A cada passo dúvidas salteadoras nos assomam: o que queres? o que te intimidas? que imagens queres passar? qual a importância que cada uma das pedras de teu caminho tem para ti?

Para além do salgueiro! Atravessemos, então, o pântano, rumo às nossas cidades! Em confronto com tantas angústias e paixões é preciso estar na multidão, pois diante dos espelhos é que vemos nossas verdadeiras faces.

quinta-feira, junho 07, 2007

No jardim da espera


Pétalas ao vento não me dizem
Bem-me-quer ou mal-me-quer
Então espero em meu casulo
Se você virá ou não

Ervas daninhas no jardim
Mato-me, mato a crescer
E em meu casulo, rôo as unhas
Devorando o coração

Envolta em tênues fios
tecendo minutos de ilusão
Espero-te, ansiosa, sem saber
se haverá uma hora certa

- Mas então é primavera!
diz a voz da intuição
-Levanta-te! Já é hora de nascer...
Abre as asas, borboleta!


(para Karina Nou)

domingo, junho 03, 2007

Bife de coração ao molho de indiferença


Ingredientes:



  • 01 coração fresquinho

  • 01 xícara de lágrimas sofridas

  • 01 boa dose de esquecimento


Molho:


  • Imagens do passado

  • 01 pitada de mágoa

  • 01 naco de amor próprio

  • Azeite de desprezo extra-virgem

  • Brotos de esperança cortados pela raiz

  • Descaso à gosto

Modo de fazer:


Pegue as imagens do passado, tempere com uma pitada de mágoa, um naco bem bonito de amor próprio e descaso à vontade. Refogue em fogo brando no azeite de desprezo extra-virgem por cinco minutos. Deixe esfriar.


Corte o coração novinho em folha em dois pedaços. Não precisa ser exatamente ao meio. O importante é que seja partido na hora.


Tempere o coração com uma xícara de lágrimas sofridas e jogue, logo em seguida, uma boa dose de esquecimento para flambar.


Coloque numa bandeja e despeje sobre o coração quente, o molho frio. Voilà. É só servir...



by Dani Maya & Ricardo Bebe-Gás.

Nós


Nós
Um nó de nós dois
Um beijo
Um sonho para depois
Insone
Coração tão descuidado
intensamente
quis amar
sem medir distância ou tempo
Incontáveis luas
Minguantes serenos
coração tão desatento
que amou sem ser amado...

Voz
que cantou canções no vácuo
No eco
só se ouvia nos trilados
Não mais
coração tão descuidado
Imensamente
quis se dar
sem olhar quem estava ao lado
Almas nuas
vazantes seremos
em solitários alentos
com amores tais guardados...

Dani Maya