quarta-feira, junho 28, 2006

PEQUENAS MORTES COTIDIANAS


Após a leitura de um dos meus textos, uma amiga muito crítica me questionou a constante presença da morte. Macabro, ela diria. Intrigada, comecei a me reler, observando de forma mais acurada todas as minhas metáforas e imagens. É verdade que as palavras morte, enterro, autópsia, caixão são recorrentes. Entretanto, eu ousaria dizer, tudo isso não passa de uma canção de louvor à vida!

O maior sofrimento humano decorre da consciência de sua finitude. É nesse momento em que a vida passa a ser mais saborosa, em que se deseja extrair seu supra-sumo. Momento em que todas as cores têm mais matizes.

Muitas pessoas passam pela existência como espectros, aglomerando-se na multidão amorfa, sendo mais um nas estatísticas. Massa de bolo, de pão, de manobra. Fazendo parte da reunião de ninguém. Sobretudo, sem fazer nada por si mesmo. Sem crescer como ser humano. Sem ser. O que você faria se soubesse ter apenas mais um ano de vida?

O câncer do tempo está nos devorando, escreveu Henry Miller. E ele continua faminto. Aquilo que nos permite a vida é o que nos oxida. Entretanto, eu acredito, cada minuto que passa é uma chance de virar a mesa. Mas para isso precisamos nos livrar dos fardos que carregamos para estar com as mãos livres, pois só assim é possível receber o novo.

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