sexta-feira, agosto 03, 2007

O "desencantamento" ou Uma resposta para Lu

Isso aqui não passa de alguns pensamentos acerca de uma temática que me foi colocada. Não pretendo ter razão, embora minhas afirmações pareçam estar muito cheias de sua própria verdade. Pretendo fazer algumas considerações sobre o "desencantamento" do "príncipe encantado".

O princípio é a negação. Mas não basta assassinarmos as princesas, negarmos os nossos sonhos, sonhos que nos foi cuidadosa e subliminarmente inculcados através de séculos de uma cultura machista alimentada por nós mulheres, na medida em que perpetuamos ritos medievais de dominação como o casamento, no qual somos entregues das mãos do pai à custódia do marido; nas historinhas de ninar que contamos para nossos filhos; na diferenciação cultural marcada por uma moralidade lassa e permissiva aos filhos homens e cheia de tabus para as filhas mulheres, subjacentes em discursos como; "prendam a sua cabrita, que o meu bode está solto". O princípio é a negação.

Não quero dizer com isso que devemos empunhar bandeiras e proferir palavras de ordem, queimando soutiens em praça pública. Mesmo porque, acredito, homens e mulheres são diferentes. E devem ser tratados de forma diferente, naquilo que têm de essencialmente diferentes. Da mesma forma, devem ser tratados de forma igual naquilo em que devem ser iguais. E nesse ponto ressalvo a questão do respeito.

Não somos objetos para sermos custodiadas e isso quase não existe mais. Mas havia um discurso subjacente ao rito do casamento: o ideal idílico do sonho de fada. No casamento, toda mulher pode ter o seu dia de princesa. E qual o problema em casar? Nenhum! Casamentos são lindos e românticos! O problema é que, na maioria das vezes, quando começamos a nos envolver afetivamente com um homem já o vemos como o "príncipe encantado" que nos levará ao altar.

Comumente, ele não é um príncipe, mas um sapo. E antes que a ala masculina comece a berrar, eu pergunto: que mal há em ser um sapo? Eu poderia usar qualquer outra metáfora, mas já que estamos usando os contos de fada, o sapo é o personagem que melhor representa a "humanidade" do homem normal, não-encantado, num universo fantasioso onde tudo é mágico.

Então surge a pergunta: assassinadas as princesas, o que fazer com o "encantado"? Ora, assassiná-lo também. Se matamos as princesas e mantemos vivos os príncipes e as fadas madrinhas, mantemos o vínculo com toda a fantasia que nos impossibilita viver um história real e saudável. E nos refugiamos nas fantasias novelísticas, romanescas ou cinematográficas cada vez que a vida não imita nossos sonhos.

Chegamos à parte positiva. Um fabuloso dizer "SIM". Um maravilhoso "desencantar". Alguns românticos podem me perguntar o que de maravilhoso pode haver nisso? E eu respondo: Maravilhoso é ser saudável. Ao sairmos do mundo da fantasia e "desencantarmos" nossos arquétipos ideais, estamos nos permitindo encarar a vida como ela é, embora ela não precisa ser nelsonrodrigueana. Mas às vezes é. E daí? Fugimos para a fantasia novamente? Não acho que é bem por aí...

De qualquer forma, enquanto esperamos encantados, criamos expectativas. É um peso pra gente, mas é um peso para eles também. Qualquer um quer ser gostado com seus defeitos peculiares, ser ter q bancar o herói romântico o tempo todo. Tudo bem, a grande maioria dos homens não chegam a essa complexidade de pensamento, mas reagem assim à pressão, tão logo começam as nossas cobranças.

E o pior é que, as vezes com o nosso excesso de cobranças, acabamos jogando o peso de uma responsabilidade muito grande sobre um cara, que pode ser um cara legal, apenas por ele ser normal, com defeitos e virtudes... Daí afastamos o que poderia ser um bela história de amor, construída no dia a dia, com concessões e trocas, as vezes com algumas briguinhas, mas com muito diálogo, como só as histórias de amor reais podem ser...

Outro problema é que ficamos tão ansiosas, que muitas vezes não nos permitimos o tempo das coisas acontecerem e ficamos com o primeiro babaca que nos arrota palavras bonitas, que aos poucos se revelam torpes. Temos que cuidar de nós. Nos amar de verdade. Só quando conseguirmos nos sentir felizes sem esperar nada ou ninguém, aí sim estaremos prontas para viver uma relação plena onde tudo é soma. Uma relação onde não há necessidades. Onde cada um possa ser "uma taça que quer transbordar"...

Um brinde!

5 comentários:

Leon' Bandeira disse...

que pode ser um cara legal, apenas por ele ser normal

Luciana Ferreira disse...

Concordo com vc, devemos assassinar logo esse encantado!
Mas e agora, que tipo de história vamos escrever?Que tipo de personagem e de relação teremos?Quais serão os papéis de cada um nesse novo conto de fadas do novo milênio?O que desejar e o que fazer?
Muitas perguntas né amiga?
As pessoas têm seus defeitos sim, mas nesse mundo onde o EU é mais importante e as relações são tão supérficiais, está diícil encontrar um caminho.Mas continuemos na luta!!!
Beijos!!

Daniela de Oliveira Gomes disse...

Vamos escrever histórias do cotidiano, com relações reais, construídas através do lento processo de re-conhecimento e auto-conhecimento.
Acho que o que desejar, permanece o de sempre: ser feliz! O que muda, a meu ver, são os caminhos para conseguir. caminhos não tão oníricos e nos permitiram perceber que no até no meio da poesia tinha uma pedra...

Beijos!

Anônimo disse...

Eu acho que o grande desequilíbrio nos relacionamentos nesse nosso mundo maluco pré-apocalíptico é a questão do papel do masculino e do feminino.

A enorme pressão em cima da mulher para ela seja mais "masculina", independente, auto-suficiente, forte e agressiva acaba produzindo também homens mais "femininos", sensíveis, introspectivos e inseguros.

É preciso entender que em todo homem há um lado feminino e em toda a mulher á um lado masculino, e para um relacionamento dar certo, é preciso que os dois lados se dêem bem, o masculino do homem tem que se apaixonar pelo feminino da mulher
e o masculino da mulher pelo feminino da mulher,e vice-versa! :)

A energia masculina é extrovertida, representa a força, agressividade, pujança, mas também oferece a proteção, segurança. A energia feminina é introspectiva, representando a inspiração, beleza, criatividade, mas também é frágil e sente necessidade de proteção.

Com isso não estou dizendo que o homem tem que ser 100% agressivo e a mulher 100% frágil, todas as pessoas são misturas dessas duas energias. E o equilíbrio bom não é 50/50, pois o homem em equilíbrio deve ter mais da energia masculina e a mulher menos.

A melhor figura para visualizar e entender as proporções é o tal do Yin-Yang em movimento, onde o preto representa o lado feminino e o branco o masculino, sendo que cada um nasce de dentro do outro.

Quando há desequilíbrio, a mulher fica cobrando do homem um comportamento mais masculino ou o homem fica insatisfeito com a mulher por ela querer ser o homem da relação. No desequilíbrio é comum os papeis de homem e mulher ficarem trocados.

Também não digo que o homem não deva ser feminino às vezes, fazer um jantar, lavar a louça, costurar, cuidar do jardim, arrumar a casa; nem que a mulher não possa ser masculina, decidindo as coisas pelos dois, trocar uma lâmpada, matar uma barata, brigar por causa de uma injustiça. O problema é quando isso se torna muito freqüente.

Homem algum consegue se aproximar de uma mulher que não demonstre nenhuma fraqueza, seja ele um príncipe, um sapo ou mesmo um rei.

Uma boa prática para equilibrar as energias é dançar! Pois na dança o homem precisa ser masculino para poder conduzir, e a mulher precisa ser feminina para ser conduzida. Dizem que um bom casal dançando é como se fosse um corpo só.

Beijos e muito equilíbrio!

Anônimo disse...

muito do caralho esse seu texto Dany! saber amar é saber se predispor a compreender que é a verdade da incompletude que nos faz ser maduros o suficientes para entendermos a perfeição!
Não é por não idealizarmos no sentido ideal do termo que não viveremos mais fantasias. eu acho que é justamente o contrário, pois amando-se sem esperar o absoluto de nossas expectativas egoísticas, saberemos viver a nossa fantasia cheia de surpresas! tudo será um conto de fadas dentro da sensação de sabermos que dançaremos cirandas com os anjos e com os alecrins sabendo que antes de mais nada, por via do sonho, sentimos também o cheiro do solo sob os nossos pés.

Viver surrealisticamente com os Pés no chão